A ilusão do medo

 

Um tema recorrente em conversas e estudos tem sido a necessidade de se olhar para as ilusões como único caminho para desfazê-las. A ilusão mais forte dentro desse sonho vem a ser aquela que o projetou: o medo. Olhar para o medo representa então o início do acordar.

Apesar de se manifestar de inúmeras formas, o medo tem sua origem na crença de que a escuridão pode ocultar, crença que se manifestou no momento que a mente do Filho de Deus pensou poder ser algo diferente do que ele É. Em um momento insano, a mente pensou ser possível tornar o perfeito imperfeito, acreditou ser capaz de mudar a Criação de Deus ou de ser autocriada.

Nesse instante de devaneio e arrogância, acreditamos ser capazes de ter uma vontade diferente da Vontade de nosso Pai. Assim, projetamos a separação de Deus e pareceu-nos que algo estava faltando e que esse vazio engendrado poderia ser preenchido com nossas próprias ideias individuais e separadas. Acreditamos ser capazes de usurpar o poder de Deus.

Essa crença preencheu o vazio experimentado com a culpa, sentindo-se culpada projetou a retaliação de Deus, e assim experimentou o medo de ser punida por tal insanidade. Como consequência da tensão sentida pelo medo da punição, a mente dividida levantou suas defesas que, como sempre, vem a ser o ataque. Estando em guerra contra tudo e contra todos, a mente experimenta agora um estado bem diverso daquele que experimentou antes da separação.

Qualquer medo que sentimos, em qualquer situação, é apenas um desdobramento desse estado antinatural sentido pela mente do Filho de Deus. A primeira linha de defesa de nosso ego é, como sempre, a negação e o procrastinar a inevitabilidade do ato de olhar para as ilusões. É necessário olhar antes de poder escolher entre a ilusão e a verdade. A liberação do medo, portanto, é o princípio, o meio e o fim para nosso acordar para a realidade.

“Mudar a mente significa coloca-la à disposição da verdadeira autoridade.” T-1.V.5

A separação nunca ocorreu, a não ser na mente que acredita estar separada, assim, temos a oportunidade de fazer o uso apropriado da negação, negando que qualquer coisa que não seja a Vontade de Deus seja real e, portanto, não existe. Se pensarmos que Deus Criou seu Filho para não ser sozinho, que realidade há na crença da separação?

A escuridão trazida à luz é corrigida automaticamente, por definição, escuridão é ausência de luz. A negação do erro vem a ser uma forte defesa da verdade e a negação da verdade vem a ser a projeção do ego.

O medo é o estado experimentado quando nossa mente esta enganada e quando necessita de cura, a cura é a liberação do medo. Mas é preciso aceitar que a cura é necessária. As criações equivocadas de nossa mente não existem e a correção só pode acontecer no nível do pensamento, assim devemos induzir nossa mente a desistir de suas criações equivocadas.

O primeiro problema que enfrentamos é que pensamos que o medo é um estado que parece estar muito além de nosso controle. Assim, quando experimentamos um estado de desconforto profundo causado pelo medo, temos a tendência de pedir para que ele seja tirado de nós, algo que não irá acontecer, pois o estado do medo tem que ser autocontrolado. Sua presença nos mostra que pensamentos equivocados surgiram na mente, essa percepção nos faz sentir responsáveis por eles, causando uma confusão, pois acreditamos que o que está fora de lugar em um nível pode afetar de maneira adversa em outro.

“Na medida em que compartilha da minha recusa em aceitar o erro em ti e nos outros, não podes deixar de unir-te à grande cruzada para corrigi-lo, escuta à minha voz, aprende a desfazer o erro e age para corrigi-lo” T-1.III.1

Temos que escolher corrigir a confusão, deixando voluntariamente de ser condescendentes com pensamentos insanos, nós somos responsáveis pelo que pensamos. Somente no nível do pensamento a escolha é possível. Sempre que experimentamos medo, permitimos nossa mente criar de forma equivocada. Assim, é necessário admitir que escolhemos errado e que devemos colocar nossos pensamentos sob orientação da mentalidade certa.

Para sair do conflito, temos que mudar nossa mente e isso é uma questão de disponibilidade. A correção do medo é nossa responsabilidade. O correto então é pedir ajuda para compreender as condições que trouxeram o medo, e essas condições sempre envolvem uma disponibilidade para estar separado. Somos por demais tolerantes às divagações da mente. Sempre que experimentamos desconforto é porque a necessidade de correção veio à consciência. A tensão que ocorre em seguida é consequência do conflito entre o que queremos e o que fazemos, escolhendo fazer coisas conflitantes experimentamos a fúria e a projeção. Apenas nossa mente pode produzir o medo e ela o faz quando esta conflitada, quando o querer e o fazer estão em discordância.

O conflito é uma expressão do medo, consequência da escolha por não amar, decidimos fazer alguma coisa sem amor, escolhendo, portanto, sem amor. O medo surge pela falta de amor e o único remédio é o amor perfeito. Então, se o primeiro passo é a decisão de olhar, o passo seguinte é a aceitação da necessidade de abolir o medo, escolhendo o caminho da cura verdadeira.

Temos medo de nossos pensamentos, de todas as pessoas, de todas as coisas, de Jesus, de nós mesmos, temos medo da cura, temos medo de olhar para dentro. Nos recusamos a aceitar que a cura é necessária e por isso seguimos dormindo, estado mental perigoso, a menos que seja percebido, pois não existem pensamentos vãos, todo pensamento produz forma em algum nível. A verdade aqui é que não vigiamos nossos pensamentos com suficiente cuidado e atenção. Necessitamos de um milagre para nos capacitar a fazer isso.

Devemos treinar nossa mente para estar disposta a milagres. Não podemos deixar nossa mente sem vigilância. Assim devemos nos focar no pleno poder da mente de forma a evitar criações equivocadas. Temos que ter um respeito genuíno pela verdadeira lei de causa e efeito. Tanto o milagre quanto o medo vêm do pensamento e nós estamos livres para escolher, mas escolher um é rejeitar o outro.

Qualquer tentativa de dominar o medo através de nossa ‘maestria’ é inútil. Pois estamos afirmando o poder do medo pela necessidade de dominá-lo. A única solução aqui é a maestria do amor.

Se houvesse interferência entre nossos pensamentos e seus resultados, a lei básica e universal de causa e efeito estaria adulterada. Estudando essa lei, podemos perceber que só existe uma Causa – Deus e seu efeito é o Filho de Deus. Isso acarreta em um conjunto de relações de causa e efeito bem diversas daquelas que introduzimos na criação equivocada. O conflito pode ser resumido então entre a Criação e a criação equivocada, entre o amor e o medo.

A solução para sair dessa ilusão é reconhecer que só há um problema apenas como uma indicação de que é necessária uma correção imediata. Nenhuma transigência é possível entre o amor e o medo. Podemos continuar acreditando no erro, mas estaremos acreditando na existência do nada.

O Amor perfeito exclui o medo

Se o medo existe

Então não há amor perfeito

Mas,

Só o amor perfeito existe

Se há medo

Ele produz um estado que não existe.

T-1.VI.5

Quando decidimos encarar usualmente ocorre o desejo de vencer, o que implica em um estado potencial para a mudança da mente. A confiança não pode ser completa sem maestria e a única maestria real é através do amor. A prontidão é o começo da confiança.

Estamos prontos para olhar para o medo?