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Dos ventos de agosto…

vento

Nunca antes pude observar, perceber e vivenciar a influência da natureza na jornada espiritual, seja a minha ou a do grupo, se é que há diferenças entre elas. Esse tem sido um ano muito intenso para o Instituto Flor de Lótus, com muitas mudanças e muita provação. Iniciamos o ano mudando para um novo espaço que pode ser dedicado integralmente a práticas espirituais.

Essa mudança física acarretou uma série de novas responsabilidades e sonhos, desafios e superações que proporcionaram ao grupo crescimentos inimagináveis até então. Pouco a pouco fomos nos adaptando a mudança, melhorando a estrutura e nos alinhando aos vizinhos. A intensidade e cobranças nas vivencias com a ayahuasca se ampliaram, nos mostrando que demos um passo a mais nessa espiritualidade nos trazendo também grandes responsabilidades. Percebemos na própria pele que para seguir nesse caminho temos que estar alinhados a verdade. Caso contrário o bom balanço vem. E como diz a música faz tudo balançar, colocando cada coisa em seu lugar.

Lembro-me de um sábado, o primeiro sábado de práticas de meditação onde recebemos a visita da ilustre Ana Maria, a voz nos áudios do UCEM utilizados em nosso ritual. Naquele dia, após a prática, parte do grupo decidiu acompanha-la em outro ritual, enquanto outra parte optou por ficar na chácara trabalhando na limpeza do espaço. Ao final da tarde decidimos fazer um ritual “fechado” para as pessoas que estavam ali. Começou o ritual e uma ventania chegou, balançou as árvores, apagou as velas, derrubou copos, foi bem forte; na sequencia choveu. Nem forte nem fraco, apenas choveu. Olhares foram trocados e uma decisão silenciosa aconteceu. Ninguém saiu de seu lugar. O vento e a chuva passaram, a fogueira continuou acesa e um céu estrelado se abriu ao final do ritual, como que em recompensa por termos persistido.

Seriam prenúncios do que estava por vir? As pessoas que decidiram ficar e persistir mesmo diante de vento e chuva teriam alguma missão a cumprir?

Foi nos dito que o mês de agosto é chamado por alguns de “mês do cachorro louco”. É um mês com muito vento; o vento sempre representou mudanças, balanço, renovação. Os ventos de agosto arrancam o que ainda restou da folhagem fraca e velha nas árvores, limpando e abrindo espaço para as novas folhagens que a primavera trará. Foi muito comum irmos na chácara  limpar as folhas e alguns dias após ter que fazer toda a limpeza novamente.

Os ventos de agosto derrubaram galhos, bananeiras, mataram árvores, balançaram e balançaram a ponto de trazer certos medos e angustias que estavam bem escondidinhos e “protegidos”. Esses ventos arrastaram folhas e efetivaram a limpeza,  nos cabendo pegar o rastelo e limpar, e perceber que havia ainda muita sujeira acumulada.

Em agosto o inverno está na sua parte final, estação fria, especialmente esse ano, estação de recolhimento e introspecção, momento oportuno para olhar para dentro e tomar novas decisões. Espiritualmente falando, o inverno é visto como um momento de transição, que permite a retomada da luz, em um movimento que não é provocado pela força, mas que vem de forma natural e surge espontaneamente. Com sabedoria a transformação do antigo pode e deve ser fácil, o velho é descartado e o novo introduzido, com leveza e gratidão. Como o tempo está de acordo com esse movimento, ele não traz prejuízo algum, facilitando associações de pessoas que tem os mesmos ideais.

Como tal grupo se une em público e está em harmonia, os propósitos particulares e egoístas estão ausentes, e assim erros são evitados. Esse movimento cíclico da natureza introduz o retorno e o caminho se completa em si mesmo. Tudo vem de modo espontâneo e no seu devido tempo. Tudo o que está recomeçando deve ser tratado, nesse momento, com suavidade e cuidado, para que o retorno leve ao florescimento.

O inverno então é visto como momento de renovar as esperanças, trazendo promessas de realização. É um momento de purificação e renascimento. O inverno traz a falsa sensação que tudo está congelado e estagnado, mas interiormente grandes acontecimentos estão ocorrendo, as plantas estendem suas raízes mais profundamente e esse crescimento para dentro da terra, permitirá à planta desabrochar na primavera.

Ah os ventos de agosto… É difícil no meio da ventania manter a calma, e a certeza que ela passará. É doloroso ter as folhas arrancadas, envergar até quase quebrar… Ter as raízes firmes nesses momentos é fundamental. Quanta incompreensão de minha parte diante de todo esse processo tão claro quanto a luz do Sol.

Em agosto fizemos uma pausa em nosso ritual, era um momento de reunir o grupo, rever certas questões, cuidar do espaço, traçar novos caminhos, novos rumos, fortalecer a base, fincar ainda mais as raízes… Como tudo se encaixa perfeitamente agora. Como diz a música, se eu soubesse antes o que sei agora, faria tudo exatamente igual, pura e simplesmente porque vejo a perfeição da condução espiritual.

Dos ventos de agosto… Agradecemos ao Pai por suas dádivas, cientes da profunda transformação que fomos lançados e em gratidão abrimos espaço ou preenchemos os espaços vagos, como em um bailado do daime, firmes no propósito que se renova e mantém firme a certeza de que vale a pena acreditar!

Ah, natureza, quantos ensinamentos silenciosos traz aqueles que sabem observar.

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Comentário (1)

  1. Responder
    Vanilda de Souza says:

    Boa noite! É tudo muito profundo é transformador! gratidão por compartilhar estes conhecimentos! É a cura da alma, gratidão

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