E quando as crises chegam?

crise

Todos nós já tivemos aquela fase em que parece que não há mais saída e parece que, quanto mais nos debatemos, mais nos prendemos às teias de nossos problemas. E, nesse momento, nos desesperamos e parece que nada do que fizemos até agora faz o menor sentido. É quase como se tudo o que foi feito e o que nos aconteceu tivesse sido em vão. E como sair dessa situação? Ou os “becos sem saída” são uma realidade inexorável onde devemos simplesmente reconhecer que chegamos ao “fim da linha”?

A maior fonte de verdadeiro conforto é o fato de que, apesar de nossa vacilação entre o ego e a mente certa, o nosso despertar é certo. Se partimos da premissa de que há um Deus, Que é o puro Amor, cuja Vontade é onipotente, poderia a Sua Vontade ser outra além de que Seu Filho desperte e lembre-se de que ainda está ao Seu lado?

Apesar de estarmos sonhando com o exílio, de que estamos separados de Deus, a memória da verdade, que é a perfeita Unicidade de Deus foi trazida conosco para o sonho. A Voz de Deus sempre esteve dentro de nossas mentes certas e, quando estamos seremos, conseguimos ouvir vislumbres de Sua Voz.

Se estamos cientes de que a Vontade de Deus será feita não importa o quanto lutemos contra ela, como podemos perder a esperança em nossa jornada? Mas nos desesperamos quando nos separamos da esperança e sempre que estamos deprimidos, ansiosos, amedrontados ou culpados precisamos apenas nos lembrar de que deve haver uma outra forma de conduzir a vida e de que não precisa ser assim.

Quando nos deparamos com um problema aparentemente sem solução, nos desesperamos por causa da crença em nossa limitação. No meio do tormento, não percebemos que as ilusões se tornam reais apenas quando temos medo e queremos fazer algo a respeito delas. Nesse momento, a esperança se desvanece e ficamos transtornados.

Mas e se conseguíssemos conceber a ideia de que, atrás de cada ilusão, está a realidade? Por que transformamos os pensamentos de nosso ego em monstruosidades, quando podemos facilmente nos mover além deles para o Amor de Deus? Como podemos nos desesperar ou cair nas tentações do ego e acreditar que ele é mais poderoso do que Deus?

Sofremos por não conseguirmos silenciar a voz do nosso especialismo, da nossa individualidade que nos fala constantemente de tudo o que achamos que precisamos, queremos ou até mesmo exigimos. Quando conseguirmos silenciar essa voz, ouviremos a Voz por Deus que nos diz gentilmente Quem somos. Então, nossa busca nessa vida deveria ser a de silenciar a voz do ego para podermos chegar à compreensão de nosso verdadeiro Ser.

Mas como podemos fazer isso? Para que possamos silenciar algo, precisamos primeiramente estar conscientes de sua manifestação. O que ouvimos nos outros é uma projeção da voz que tornamos real do lado de dentro – de separação, dor, julgamento e morte. Quando aprendemos a ouvir essas palavras e pensamentos pelo que eles realmente são, podemos escolher contra eles. E, assim, em silêncio – não verbal, mas sim de todo o sistema de pensamento do ego – conseguimos ouvir a voz tranquila e calma que nos leva de volta para casa.

Todas as vezes em que não estivermos felizes e em paz é porque escolhemos ouvir e seguir a voz do ego, que nos diz que somos separados das demais pessoas e que nossos interesses pessoais são os mais importantes e o que nos fará felizes.

Entretanto, conforme caminhamos, quando olhamos para tudo o que nos aconteceu e o lugar onde estamos agora, percebemos que todas as nossas experiências foram perfeitas para que aprendêssemos tudo o que precisávamos. Então, seja o que for que estivermos atravessando nesse exato momento, isso faz parte das lições que escolhemos nessa vida para que aprendêssemos o que é necessário. Conseguimos ter uma ideia do todo ao olhar para a nossa vida em retrospectiva.

Devemos assumir a responsabilidade pelo lugar onde estamos. Podemos encontrar conforto na certeza de que tudo o que nos acontece faz parte de uma jornada espiritual e não existem acasos. Tudo tem o seu propósito. Quando tudo o que entendíamos como segurança se vai e o mundo da maneira como conhecemos começa a desmoronar, é porque algo novo está chegando e esse algo será essencial para o nosso crescimento e nosso caminhar.

De que nos adianta lutar contra as circunstâncias que não podemos mudar? Qual a nossa única escolha além da maneira como percebemos o que nos acontece?

É claro que é muito difícil conseguir enxergar as dádivas que acompanham o que percebemos como problemas graves, mas é garantido que, se olharmos com cuidado e conseguirmos olhar para tudo o que está acontecendo como meros observadores ao invés de sermos consumidos pelo turbilhão, haverá uma razão para o que estamos passando. E, ao percebermos que, ao contrário do que imaginamos, nada está perdido, enxergamos uma pontinha de luz e ela não precisa ser atingida no final do túnel! Ela pode ser vista e percebida agora, neste exato momento!

Por outro lado, devemos ser gentis conosco mesmos caso não consigamos vislumbrar a luz imediatamente. Tão importante como reconhecer a ilusão é respeitar o nosso estado atual. Diante das situações onde ainda não temos o discernimento de enxergar além do desespero, não devemos nos cobrar tal atitude. Talvez o tormento dure um dia, uma semana, talvez um mês. É fundamental que respeitemos o nosso próprio tempo, até que estejamos prontos para não mais temer o amor. Quando olhamos para o nosso próprio processo sem julgamento, é porque não nos identificamos com ele e, portanto, não estamos olhando sob a perspectiva do ego. É necessário que sejamos gentis conosco.

Uma grande fonte de alento é o conhecimento de que nunca estamos sozinhos. Ao sonharmos que nos separamos de nosso Pai, trouxemos a Sua lembrança conosco e, assim que estivermos disponíveis para escutar, Ela se manifestará e nos recordará que ainda estamos em casa e o Céu é uma realidade que podemos vivenciar agora. Então, nos momentos de maior desespero, que a lembrança do Que somos prevaleça sobre a ilusão do que pensamos ser e que saibamos que, como Filhos de Deus perfeitos, não nos resta mais nada a fazer a não ser a Sua Vontade.