A espiritualidade por Prem Baba

prem-baba1

 

Satsang 18.03.12

por Prem Baba

Hoje são tantas boas perguntas, que não há como saber o rumo da transmissão. Então, eu vou escolher a mais polêmica. (risos)

Pergunta: Tenho alguns amigos que partilham de uma visão parecida com a que você propõe de que, em essência somos amor; que somos um só, etc. No entanto essas pessoas nunca estiveram com você, ou mesmo com algum mestre espiritual; elas tiveram esses insights a partir de experiências normais com LSD. Você poderia comentar isso? Como isso se relaciona com o Santo Daime?

Prem Baba: Jamais alguma droga poderá lhe proporcionar a experiência do estado definitivo. Nenhuma droga pode proporcionar a experiência da unidade. Tal experiência requer o redirecionamento dos vetores da vontade, o que envolve dedicação e disciplina. 

Somente o sadhana pode propiciar que, em algum momento, você receba a Graça do Mestre. Alguns expansores de consciência podem lhe dar o vislumbre de alguns diferentes quadrantes da consciência – o que pode ser útil em algumas situações, ou devastador em outras; até porque você tem um vislumbre do Eterno e não sabe como retornar para esse lugar. Então, você é tomado por uma profunda angústia que dificilmente se cura. A não ser que você se coloque no caminho e faça o trabalho que precisa ser feito, para a árvore da consciência poder, em algum momento, dar frutos.

O céu não pode ser tomado de assalto. Quando isso acontece e você tem uma experiência da verdade eterna, ocorre uma incoerência entre aquilo que você acredita e aquilo que você vive. Muitos tiveram o vislumbre da verdade universal através das drogas, mas não conseguem colocar em prática. O ego, sutilmente se apropria dessa percepção e cria uma realidade particular, onde somente você acredita naquilo que está sentindo, mas as pessoas a sua volta, muito provavelmente, vão perceber essa incoerência. É muito fácil falar sobre amor e perdão, a questão é, realmente, amar e perdoar.

Durante a trajetória deste corpo em direção à experiência do Definitivo, talvez o maior desafio tenha sido tomar consciência dessa hipocrisia. Porque, através de diversificadas experiências, eu pude ampliar bastante o meu entendimento a respeito da vida. Eu me tornei um professor que falava coisas muito bonitas, mas, em dado momento, eu percebi que não praticava aquilo que falava. Eu percebi que maltratava quem estava perto de mim, e fazia pouco caso para algumas revelações que me eram colocadas. E foi justamente a tomada de consciência da incoerência entre pensamento, palavra e ação, que me fez perceber a diferença entre um professor de espiritualidade e um ser realmente espiritual.

Muitas pessoas, ao terem experiências místicas proporcionadas por drogas ou por qualquer outra prática, facilmente entram em uma viagem de que a busca terminou. Alguns, realmente chegam através de práticas espirituais, ao completar o ciclo da realização pessoal, o que proporciona uma fluidez na vida; alguns, até chegam a abrir o quarto chakra, e acreditam que a busca terminou. Outros, até chegam a banalizar o fenômeno da iluminação, ou seja, colocam de uma forma muito simples e fácil.

São bem poucas as pessoas verdadeiramente espirituais neste mundo. É muito difícil pessoas que chegaram ao sétimo chakra, e que são coerentes entre pensamento, palavra e ação. Nenhuma droga pode lhe dar isso.

Este é um tema realmente significativo. Eu tenho motivado a todos que estão comigo, a se libertarem de todos os amortecedores. Eu tenho motivado você a ter esse encontro face a face com a realidade. O poder, por exemplo, é uma droga muito pior do que o LSD. Eu me refiro ao falso poder. As drogas destroem somente a você, o falso poder destrói você e outros ao seu redor, e lhe dá a mesma sensação de grandeza e amplitude – a sensação de que você chegou em algum lugar. Existe algum expansor da consciência maior do que o dinheiro? Talvez uma mulher bonita ou um homem bonito. A luxúria também é um expansor da consciência.

Eu tenho trabalhado para retirar esses amortecedores do seu caminho. Eu não estou condenando o dinheiro, mas o mau uso dele. Eu não estou condenando a beleza, mas estou chamando atenção para o mau uso que se faz desse falso poder. Essa é uma forma de se esconder; uma forma de se proteger.

Por mais que determinadas drogas como o LSD, o dinheiro e a luxúria possam lhe dar um vislumbre de certos quadrantes da consciência, ainda é muito limitado; ainda não é você. 

Para você poder ter uma experiência do Real, é necessário remover os amortecedores. E, no começo, requer esforço, porque você precisa resgatar a vontade que está sendo utilizada por canais impróprios, por hábitos nocivos e destrutivos. Essa virada da chave envolve bastante determinação e disciplina; muita constância na prática. Até que, em dado momento, você se afina com a prática e torna-se fácil, confortável e natural.

No começo, lhe é sugerido para se sentar por uma hora para fazer o mantra, e você quer escapar disso (como diz o ditado – “como o diabo foge da cruz”), porque é difícil. É muito mais fácil, ter acesso a um vislumbre da verdade através de uma droga. Uma das sérias doenças, da fase atual da humanidade, é a síndrome da iluminação prematura. Você quer comprar a verdade “congelada” no mercado, colocar no microondas e utilizar prontamente… Mas, eu tenho que lhe dizer que o despertar é um processo de chakra após chakra. É preciso muita paciência e compaixão, para remover camada após camada que cobre o Eu verdadeiro. Há que se ter a disposição de encontrar a verdade. Essa é minha visão; essa é a minha experiência.

Mas, como isso se relaciona com o Santo Daime, é uma questão que realmente precisa ser esclarecida

Na minha visão, o Santo Daime é um prasad da Rainha da Floresta. É um mistério amazônico. É o Ser divino transformado em líquido, que trabalha no raio Crístico, a favor da caridade universal. São falanges e falanges de seres divinos, que trabalham nesta frequência, com o propósito de desenvolvimento espiritual. É uma escola de mistérios, onde existe o parampara* – uma sucessão de mestre-discípulo. É uma coisa muito séria. 

Está a serviço de ajudar algumas pessoas a desenvolverem a sua mediunidade; está a serviço da doutrinação e da cura espiritual. Mas, desde que você utilize isso, de acordo com as determinações do Mestre espiritual daquela linha.

Por exemplo, o mestre fundador dessa frequência espiritual, o Mestre Império Juramidam, disse que o Daime seria para quem está começando a jornada – para algumas pessoas, não para todas. E que, em algum momento, elas teriam que aprender a trabalhar com essa frequência espiritual, sem o Daime. Existe uma condução espiritual te levando para algum lugar.

O que ocorre é que, lamentavelmente, muitas pessoas aprenderam a fazer este chá, e em muitos casos o ego se apropriou severamente, e para estas pessoas, ele vem sendo utilizado como uma droga, com propósitos egoístas, para ganhar dinheiro, para poder ter poder sobre o outro… Neste caso, realmente é uma questão muito delicada.

Algumas pessoas me perguntam se isso é bom para elas. Se for bom para você, fique atento com quem e onde você vai tomar. Você quer conhecer o Daime, vá para o Brasil. 

Você quer conhecer a Ayahuasca, vá para o Peru, para o Equador, onde existem pessoas sérias trabalhando. Mas, mesmo assim, eu vou lhe dizer que é difícil encontrar pessoas sérias. Porque é uma coisa que perdeu o controle, e as pessoas sérias estão trabalhando para redirecionar isso. Porque, realmente é um tesouro espiritual, um presente de Deus para a humanidade, assim como as palavras do Guru. Mas, existem falsos gurus em todo o lugar, assim como existem os verdadeiros, e você precisa aprender a “separar o joio do trigo”.

Ainda assim, eu volto a dizer que a chave está na sua relação com o seu Mestre espiritual. 

Essa é realmente a chave principal, que possibilita que a ascensão ocorra adequada e corretamente. O Mestre espiritual é quem pode te direcionar nessa jornada, do chakra básico até o sahashara chakra. Se você tenta fazer a partir da sua própria cabeça, você acaba se machucando. E nesse caso, você acaba entrando em um barco furado, vai afundando e acha que está tudo bem, inclusive. Você chama urubu de louro. (risos) Urubu é urubu, e louro é louro… Mas, facilmente você confunde os dois. O barco está afundando e você não sabe. Porque você foi assaltado pela sua pressa, pela sua ansiedade, pela sua vaidade espiritual e não percebeu.

A chave para a experiência definitiva está na entrega espiritual. O Daime é uma escola de mistérios espirituais. Existem rituais específicos que precisam ser respeitados, caso contrário, você acaba se complicando, porque, desta forma, o Ser divino não está naquele chá. Ele se transforma numa droga, assim como o poder, o dinheiro e a luxúria ou qualquer outra coisa.

Qualquer coisa que você for tentar fazer faça seriamente, faça verdadeiramente. Elimine os amortecedores da sua vida, pare de fugir de si mesmo. Nós não temos mais tempo para fugir.

A essência do trabalho de Daime são os cânticos devocionais e as preces. Eu já vi nesse mundo algumas experiências curiosas. Eu soube de um grupo verdadeiramente comprometido com essa frequência espiritual, em Santa Fé (Estados Unidos), onde era proibido esse tipo de trabalho. Então, para respeitar as leis do lugar, eles tomavam água ao invés do chá. Eles faziam o ritual e entravam no poder. Algumas pessoas me relataram isso. Então, eu vi a verdade no que eles estavam fazendo. Se você está comprometido com a verdade espiritual desse trabalho; Se você chama por Deus, Deus vem.

Deus não está somente aqui na Índia, Ele está em todo o lugar. Existem tradições autênticas também na América do Sul. O sanatana dharma também se manifesta ali e em outros lugares do mundo, onde eu sei que há tradições verdadeiras. A questão é se entregar para a verdade, para a essência, sem querer fugir do que aquele caminho está querendo lhe mostrar. Porque, se o caminho é autêntico, o guru stotram está se manifestando de alguma maneira, ele vai te levar para o encontro com a verdade – a verdade de que você é luz e amor – para que você possa experienciar o amor e a verdade, a ponto de se tornar o amor e a verdade; para que haja coerência entre pensamento, palavra e ação.

Estão lembrados de quando eu falava que nessa fase da jornada evolutiva, a mais necessária forma de amor é a honestidade? Seja honesto consigo mesmo. Não importa qual caminho espiritual você escolhe, seja honesto com ele. Não finja que está fazendo alguma coisa, mas está fazendo outra.

Eu sou o amor. O amor tem o gosto doce, mas também amargo. Eu te levo às alturas, mas eu também te levo às profundezas, para que você possa perceber o seu apego à Terra, para que possa se livrar dele. Quanto mais você se aproxima de mim, mais eu vou te espremer para que você possa ser verdadeiro; para que você possa tirar as máscaras; para que você possa se libertar de todas as defesas e amortecedores. Porque isso é ser livre. 

Ser livre é não usar nenhuma máscara, nenhum amortecedor.

Se você está nesse grau de liberdade, a sua oração é o silêncio. Comungar com o vento, com a natureza, com as flores e toda a natureza, é a mais verdadeira forma de oração.

O Mestre Império Juramidam foi o Mestre que me trouxe até o Maharaj ji. É um Mestre de um poder tão grande, que não dá para descrever com palavras. Mas, em dado momento, ele falou: “Eu completei com você, agora vá para o Maharaj ji.” Ele me mostrou o Maharaj ji quando eu estava no Brasil, e não tinha nenhuma ideia de vir para a Índia. Eu vi e ouvi o Maharaj ji dizendo para eu vir para Rishkesh. Foi Juramidam que me deu este darshan. Você acha que isso é brincadeira? É uma coisa séria.

O mestre é Um – Jesus, Sachcha Baba, Krishna… É tudo Narayana trazendo seus filhos de volta a Ele.

Conforme você vai se aproximando de mim, você vai percebendo que eu não sou nenhum milímetro moralista. A minha moral é cósmica, e não tem nada a ver com a moral da Terra.

Mas, eu tenho o dever de lhe mostrar a verdade. A minha única razão para acordar pela manhã, é lhe mostrar a verdade. Porque eu experienciei que a verdade liberta. Eu tive esse bom karma. Sempre que entrei em um caminho, entrei de verdade, e sempre segui de verdade as determinações de quem estava me conduzindo. Eu nunca brinquei de seguir, eu sempre segui de verdade, e é por isso que estou hoje aqui, podendo lhe ensinar o caminho de uma forma bem tranquila. Eu estou sentado nessa cadeira, em respeito ao gurustotram. Se não tem cadeira, eu sento no chão com vocês. Porque eu sei que somos diferentes somente na superfície. Dentro somos um só, uma coisa só. Essa é a minha experiência – eu realizei isso.

Eu estou te conduzindo para realizar essa mesma experiência: torne-se o amor e a verdade. Seja um exemplo para os outros. É assim que realizamos essa promessa de Sachcha Baba. Ele está atuando aqui, na América do Sul, na Europa… Em todos os lugares. O Projeto Divino é Um, e está se irradiando pelo mundo todo, onde quer que haja espaço para a verdade.

Sachcha é Verdade, a Verdade irrefutável, aquilo que sobra depois de você se libertar de todos os preconceitos, verdades emprestadas e todas as aquisições da mente. Não importa a tradição ou a religião, se tem verdade tem Sachcha, e está a favor do parlamento fakiri e do sábio Narada, ou seja, está a favor do projeto de reedificação da humanidade.

Eu junto tudo o que é verdadeiro. Eu não tenho sequer um décimo de milímetro de preconceito. Se o instrumento é autêntico, e se há verdade espiritual ali, isso tem o potencial de trazer o despertar.

Eu trabalhei duro para ser um bom exemplo para você. Não para você me imitar, mas para você poder reconhecer a caminhada. Cada um vai trilhar essa mesma caminhada de uma diferente maneira, mas eu espero que você possa se libertar dos amortecedores e preconceitos; para ter a disposição de encarar a verdade, e de realmente seguir as instruções do seu mestre espiritual. Foi assim para mim, foi assim que eu acordei, então é assim que eu posso te ensinar e eu sei que isso pode funcionar para você que está comigo.

Hoje um grupo de devotos de Krishna quer me oferecer um kirtan. Ótimo! Que venham os devotos de Shiva, de Jesus, Alla… Que venham todos os devotos de todas as manifestações divinas cantarem para Deus. Cantar funciona, meditar funciona, seva funciona… Funciona! O que o seu Mestre determinar, funciona. Se ele falar para você ir para a Amazônia fazer um trabalho espiritual específico, vá. Se não, fique aqui fazendo o seu seva, seu mantra e a sua meditação.

Essa é a compreensão que me vem ao trilhar o sanatana dharma – o caminho da iluminação. Maharaj ji certa vez disse: “Prem Baba, eu cheguei numa conclusão – se o devoto se entrega totalmente para o Mestre, ele se ilumina”. Os outros santos da linhagem falaram a mesma coisa. Em qualquer outra linha autêntica, você vai ouvir a mesma coisa. 

Se você conhecer o Santo Daime, você ouvirá a mesma coisa. Porque o Mestre é somente uma representação do seu Mestre interno. A sugestão é seguir o seu coração. Você vai seguir o Mestre externo, até ouvir o seu próprio coração. Chega um momento em que você tem que se libertar da dependência do seu Mestre externo também. Você tem que encontrar o Mestre dentro de você.

O Maharaj ji, nos últimos anos, parou de falar comigo. Ele dizia somente o que era realmente necessário. Ele dizia: “Eu já falei tudo. Agora você tem que me sentir dentro”. O Mestre verdadeiro te dá isso: Ele te conduz até que você possa encontrá-lo dentro de você.

Aí, você está realmente livre; você está pronto.

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos nos afinar com a verdade em todas as suas manifestações. Até o nosso próximo encontro.
NAMASTE


*Parampara: define uma tradicional sucessão de mestres e discípulos na cultura Hindu. Ele é conhecido também como Guru (mestre) Shishya (discípulo) parampara, onde o conhecimento (em qualquer campo) é passado (sem ser diluído) através de sucessivas gerações. No Sânscrito, a palavra significa: Ininterrupta série de sucessões. Este é um método tradicional de educação residencial, onde o Shishya permanece com seu Guru como um membro da família e consegue a educação como um aprendiz. A sucessão do parampara é uma estrita sucessão. Nunca houve mais de um ativo mestre no mesmo tempo e na mesma guruparamaparya (linhagem). Os conceitos transmitidos podem incluir espirituais, artísticos (música ou dança) ou educacionais. Os professores dos Vedas recebiam através do guru parampara , o que é conhecido como amnaya ( a verdade sobre a libertação).

Texto extraído do site:

http://www.sriprembaba.org/pt-br/satsang/180312