Somos todos terapeutas?

Couple in meeting with a financial adviser

Todos nós já passamos por alguma situação em que um amigo nos procurou atrás de conselhos ou vice-versa. Ou até mesmo uma pessoa que mal conhecíamos, muitas vezes, nos fala algo que nos traz muitas reflexões. A verdade é que, conforme nos relacionamos, sempre temos a oportunidade de aprender e ensinar com os nossos encontros.

Quando precisamos de ajuda, seja qual for o problema pelo qual estamos passando, é porque estamos atacando a nós mesmos e, em consequência, perdemos a paz de nossa mente. Muitas vezes reconhecemos nossas atitudes como autodestrutivas, mas o que poucos de nós sabemos é que o que atacamos, na realidade, é um autoconceito inventado por nós mesmos. Quando estamos passando por alguma aflição, é porque acreditamos que somos um ser que sofre a ação de outros e, assim reagimos a forças externas impostas a nós e contra as quais somos impotentes.

Portanto, o objetivo de qualquer forma de terapia, seja ela formal – conduzida por profissionais da área – ou informal – quando pessoas próximas tentam nos ajudar – deveria ser o de restaurar a consciência de nossa capacidade de tomar nossas próprias decisões. A terapia seria então um processo que muda o conceito do ser. Entretanto, a terapia não pode estabelecer a realidade, pois essa não é a sua função. Ela é muito bem-sucedida quando consegue fazer com que a realidade seja percebida. Ou seja, o verdadeiro Ser nunca deixou de existir e a terapia pode nos ajudar a reconhecer a ilusão do ser inventado para abrirmos caminho para a verdade sobre nós.

O problema é que as pessoas que procuram ajuda nunca o fazem com essa meta em mente. De maneira geral, o que buscam é “serem capazes de manter os seus autoconceitos exatamente como são, mas sem o sofrimento que acarretam” (Um Curso em Milagres – P.2.In.2:3). Ou seja, a pessoa busca uma fórmula mágica que resolva o seu “problema” sem que haja necessidade de se abandonar o que ele vinha fazendo até então. E, por outro lado, o terapeuta tenta oferecer uma “ilusão melhor” no lugar daquela que o paciente nutria até então e espera, dessa forma, amenizar o sofrimento deste.

E, então, quem é o terapeuta e quem é o paciente? Todos somos ambos. Cada vez que um paciente procura um terapeuta, ele lhe oferece a oportunidade de curar a si mesmo.

É muito importante que a pessoa que esteja oferecendo ajuda esteja consciente de que ela não é, de maneira alguma, mais provida do que a pessoa que buscou a ajuda. Isso implicaria em ensinar que o paciente não tem a capacidade de curar a si mesmo e ainda que algumas pessoas teriam mais sorte que outras, o que justificaria as tantas diferenças entre nós. Assim, o terapeuta se sente responsável pelo resultado da terapia e os erros de seu paciente são considerados fracassos do terapeuta e a culpa então o domina. A culpa que o terapeuta sente se deve ao fato de que este assume uma posição que não é sua. Ele tenta, através de seu próprio autoconceito equivocado, curar o autoconceito de seu paciente e isso, por si só, está fadado ao fracasso. Como ele poderia oferecer ajuda se estiver inserido no mesmo sistema de pensamento de seu paciente?

Todas as pessoas que chegam até nós são nossos pacientes, pois elas nunca vêm por engano. O nosso erro é pensar que sabemos o que oferecer para cada uma delas. Quando elas chegam, devemos apenas ouvir e não exigir nada, não decidir e não sacrificar nada. Quando ouvimos e conseguimos deixar nossos julgamentos de lado enquanto o fazemos, conseguimos servir de instrumento para sermos a Voz por Algo Maior que fala através de nós. Toda terapia teria o seu sucesso garantido se, ao invés de tentarmos resolver tudo por nós mesmos, tivéssemos a consciência de que devemos apenas ouvir a Voz que fala por Deus dentro de nós. A mensagem trocada entre duas pessoas deveria ser sempre a de que não há pecado a ser perdoado e que o Filho de Deus permanece santo e inocente.

A cura ocorre apenas no momento em que o terapeuta esquece de julgar o seu paciente. Por isso, a terapia ou todos os encontros com qualquer pessoa são uma oportunidade de cura mútua. Para que um terapeuta consiga ajudar o seu paciente, ele precisa rever o seu próprio autoconceito e aceitar para si mesmo a verdade antes de poder oferta-la. Como poderíamos ensinar que nosso irmão é inocente e que não houve pecado, se olhamos a nós mesmos como seres indignos?

Na verdade, a busca de todos nós é com relação ao resgate de Quem realmente somos. Nosso verdadeiro Ser repousa em tranquilidade e nada do que façamos nesse mundo pode mudar a sua imutabilidade. Sempre que ouvimos dizer que, quando nos encontramos com outra pessoa, temos a oportunidade de nos recordar de Quem somos, temos a tendência de olhar para os equívocos e falhas e tentar nos identificar com eles. Mas será que o intuito dessa fala não seria para que buscássemos a inocência em nossos irmãos para que nos reconhecêssemos como os Filhos Santos de Deus?

Qual é a nossa postura diante de nossos próprios “infortúnios”? Quando as fatalidades acontecem nos colocamos no tão confortável lugar de vítima? Como podemos ajudar as pessoas de nossa convivência estando nessa posição? Por isso, para que consigamos oferecer ajuda efetiva, todas as vezes, em que alguém nos procura por ajuda, é necessário que investiguemos honestamente o conteúdo de nossa própria mente com relação àquela questão. Existem problemas mais graves que outros? Ou até mesmo, existem problemas sem solução?

Cada vez que uma pessoa nos oferece a sua visão de mundo, deveríamos nos aquietar por um instante e tentar deixar de lado todos os nossos pensamentos e conceitos a respeito do que é Deus e o mundo e, mais importante, sobre o conceito que temos de nós mesmos. Devemos tentar não trazer nenhum acontecimento do passado com o qual aprendemos as nossas crenças e também não julgar o que ouvimos. Nós e a pessoa que nos busca caminhamos rumo ao encontro com o nosso verdadeiro Ser, conforme derrubamos as ilusões acerca do ser que inventamos. No final das contas, todos temos a sensação de que deve haver uma outra forma de encarar o mundo e tudo o que vivemos nele. Quando entendermos que não há nada que possa mudar o Filho de Deus, nossa mente estará em paz e, enquanto não for assim, que tenhamos a disponibilidade de aprender junto com todos os nossos irmãos, fragmentos de nós mesmos, que o conceito que temos sobre nós e mundo não é o mais acertado. E que tenhamos humildade para admitir que talvez estejamos errados e nessa reconfortante verdade, consigamos nos abrir para uma nova visão de mundo, mais amorosa e mais gentil.