Dinheiro e Espiritualidade

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À primeira vista, nosso julgamento egoico nos dirá que este texto tenta combinar duas coisas completamente opostas. Afinal de contas, de que forma a “causa” das maiores atrocidades humanas poderia estar relacionada ao nosso espírito? Mas pode um objeto inanimado ser a causa de qualquer coisa?

A controvérsia parece ter origem em uma compreensão profundamente equivocada de Quem realmente somos, uma visão restrita sobre a espiritualidade e o medo de algo do qual não devemos ter medo.

Muitas pessoas que se consideram “espiritualizadas”, consideram o dinheiro algo muito “pouco espiritual” e essa é uma divisão muito estranha a ser feita! Essas pessoas argumentam que o dinheiro é sujo, contra a vida, uma mancha em nossa consciência, cheio de ego. Algumas pessoas ainda dizem que professores espirituais nunca deveriam cobrar dinheiro e que seus ensinamentos deveriam ser dados gratuitamente ou por doação – e, se um professor cobra dinheiro, ele ou ela não é autêntico (a) ou é até mesmo uma fraude.

No final das contas, tudo se resume à motivação e à intenção. Não é o dinheiro que é o problema e sim os nossos conceitos acerca do mesmo. O dinheiro é simplesmente uma parte de nossa vida terrena. É a nossa ganância e medo em torno do dinheiro que criam tanto sofrimento e desigualdade, para nós mesmos e para todos os outros.

Quando qualquer tipo de serviço é oferecido – e isso pode incluir um ensinamento espiritual, música, arte, cura, terapia, qualquer coisa – qual é a intenção por trás? O que está sendo oferecido está sendo feito principalmente pelo dinheiro? Para o próprio lucro? Para aumentar a riqueza? Para promoção da própria imagem? Se esse for o caso, a pessoa nunca será verdadeiramente rica, no sentido profundo da palavra; ou seja, profundamente em contato com a prosperidade, o fluxo natural da vida. No momento em que nos esquecemos de nossa inseparabilidade da vida e tornamos “meu lucro” o foco principal ao invés da prosperidade de todos, o medo começa.

Quando fazemos alegremente o que amamos e amamos o que fazemos, quando estamos verdadeiramente conectados e permitindo que a vida flua livremente através de nós, quando a música, a arte, a criatividade e a inspiração movimentam-se e se expressam em nós, quando oferecemos essa expressão original e criativa para os nossos irmãos, em um sentimento de alegria e admiração ao invés de um impulso por lucro; quando retornamos o que a vida nos tem dado para as outras pessoas, é possível que as pessoas amem o que compartilhamos e que elas queiram mais, que isso as inspire ou as mova ou até mesmo mude a sua vida, que nossa prosperidade se torne a sua prosperidade; e elas se sentirão tocadas a nos devolver de alguma forma. Tocadas pelo que compartilhamos, as pessoas podem sentir vontade de contribuir com a nossa prosperidade e isso pode se manifestar na forma em que eles nos dão dinheiro, que é fruto de sua própria prosperidade. Eles sabem que dar e receber são parte do mesmo movimento singular da vida. Visto dessa maneira, o dinheiro é apenas um símbolo da prosperidade. Queremos que a vida continue fluindo, tanto para nós mesmos como para toda a humanidade e o ato de darmos dinheiro pode simplesmente ser uma expressão dessa gratidão.

Visto dessa maneira, um bom professor espiritual é simplesmente um artista, que usa palavras e silêncio para indicar o caminho para a verdade profunda da vida.

“A pessoa espiritualmente madura sabe que o dinheiro é uma consequência natural de suas ações, que são determinações de seu coração. O trabalho – labor tão cheio de pesar – transforma-se em serviço – o viço do ser – estar a serviço da divindade, do mestre, que em essência é o seu próprio coração. O serviço traz, como recompensas naturais, prazer e sentimento de realização. O dinheiro é parte desta recompensa, que dignifica e alimenta, porém não é o principal objetivo. Você não é escravo do dinheiro e pode se libertar do apego, o maior grilhão que prende a alma ao ciclo das reencarnações e é o gerador do sofrimento.

O dinheiro pode estar associado a diversos símbolos e crenças. Por exemplo, atendi uma pessoa que se encontrava com muita dificuldade para ganhar dinheiro. Trabalhava muito, e estava tudo bem desde que não ganhasse muito dinheiro, porém, quando começava a ganhar entrava em crise que travava o processo de ganho. Investigando sua biografia, encontramos o dinheiro associado a um quadro infantil envolvendo dor, manipulação, controle e brigas. Essa pessoa acreditava (inconscientemente) que o dinheiro era o símbolo responsável pela desagregação familiar, daí sua negação e dificuldade em obtê-lo.

Outra crença bastante comum nos países cristãos é a da necessidade de sofrer bastante para poder ser merecedor do prazer. De alguma maneira, o que você quer é ser pregado na cruz e receber a coroa de espinhos na cabeça, etc., para ser aceito pelas pessoas à sua volta. Outra crença comum é a de que você precisa ser pobre mesmo porque “é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.” Crenças como estas com toda a certeza estão limitando a possibilidade de você compreender verdadeiramente a função espiritual do dinheiro, como estão também impossibilitando você de compreender sua identidade espiritual.

Outro importante ponto a ser compreendido quando falamos em espiritualidade e dinheiro diz respeito às cobranças ou pagamentos para os trabalhos espirituais. Talvez seja mais fácil compreender a doação monetária para uma obra que é explicitamente de caridade, mas dificilmente se compreende a verdadeira necessidade de pagar valores para certos trabalhos de autoconhecimento. Chega a ser curiosa esta relação na qual, para a aquisição de bens materiais, você não poupa esforços e não há tanto julgamento. Pode-se até achar algo caro, mas a compra acontece. Basta ter o dinheiro. Porém, quando o trabalho é para si mesmo, desde uma psicoterapia até um grupo espiritual de crescimento, você hesita. Isto ocorre também por imaturidade espiritual. Há um desconhecimento da Lei do Pagamento e com certeza existe a identificação com crenças limitantes. Existe uma desconfiança, “se há cobrança, então não deve ser tão espiritual assim.” A verdade subjacente é que você usa esta desculpa para não olhar verdadeiramente para si próprio. É uma forma de não se responsabilizar pelo seu processo. Por trás desta aparente avareza está o medo de se descobrir.” Prem Baba

Quando você compreende que esconder um desejo oculto de ganhar dinheiro pode simplesmente silenciar um chamado para acrescentar à prosperidade do mundo, você compreende que não há nada errado em ganhar dinheiro, em si mesmo, e sua culpa “espiritual” sobre ganhar dinheiro desparece.

O dinheiro é muito espiritual em essência – tudo é. Cabe a cada um de nós verificar nossas intenções e motivações acerca do dinheiro, isso é tudo. De maneira geral, tudo no mundo da matéria é neutro. Uma faca pode simplesmente ser usada para cortar um pão ou para ferir o corpo de uma pessoa. Tudo depende da mente que usa a faca.

E, então, talvez possamos todos compartilhar e até mesmo rejubilar a prosperidade uns dos outros ao invés de nos tornar prisioneiros da inveja e da crítica e hipnotizados por divisões falsas entre algo denominado “espiritual” e outra coisa denominada “não-espiritual”.

Uma espiritualidade próspera que não mais separa o material e o espiritual, que acolhe o dinheiro e vê a profunda verdade em dar e receber, é uma espiritualidade profundamente enraizada na verdade.

Hoje em dia, observa-se muitas pessoas mudando de profissão e dedicando-se a ferramentas que buscam o autoconhecimento. É muito reconfortante ver que essas pessoas estejam se dedicando exclusivamente a isso, pois isso significa que os seres humanos, não só começaram a empreender a busca em seu interior, como entenderam que esse é um investimento que deveria ser feito. O dinheiro pode realmente pagar uma vivência ou uma experiência profunda de uma mudança de percepção? Certamente não, e a motivação de quem a proporciona certamente não é o dinheiro. Porém o dinheiro possibilita a difusão desse bem, que não pode ser mensurado.

Pense em um professor espiritual que você respeita profundamente e depois pense (seja honesto consigo mesmo) se a mensagem dele teria chegado até você se ele não tivesse recebido dinheiro, de qualquer forma, por aquilo que ele faz. Então, qual a função que o dinheiro tem nesse caso a não ser de espalhar o amor?

E mesmo os grandes grupos onde muitas pessoas trabalham de maneira voluntária, pense na estrutura física, em todas as coisas materiais usadas nesses grupos, qual é a fonte de tudo isso? Se não forem as pessoas que frequentam o grupo, provavelmente existe um benfeitor. Ou seja, alguém que se disponha a pagar por determinados custos, pois, sem elas, o grupo não poderia existir.

Fica um convite também para que passemos por cima de todo o nosso julgamento acerca das pessoas que oferecem qualquer tipo de serviço espiritual e recebam dinheiro em troca disso.

E, pessoalmente, torço para que surjam mais e mais pessoas que estejam dispostas a dedicar a sua vida para nos recordar do nosso verdadeiro Ser. E, nesse sentido, que o dinheiro flua em prosperidade para estes, de maneira que suas palavras atinjam cada vez mais pessoas. Que o dinheiro esteja nas mãos de pessoas conscientes, pois estas certamente poderão contribuir para que tenhamos uma vida mais feliz.

Alguns trechos foram baseados em texto homônimo, traduzido do inglês de Jeff Foster