Os Trabalhos com hinos

Desde quando fundei o Instituto e a partir do momento que tive (maior) acesso às músicas eu comecei a nutrir um “sonho” de realizar um trabalho completo com hinos. Assim, passei um período estudando e selecionando as músicas, ao mesmo tempo que estudava e entendia melhor toda a história do daime.

Tinha (e tenho) um conhecimento bem limitado sobre os diferentes hinários, mas carregava e carrego um profundo respeito pelo trabalho do mestre Irineu e admiração pela gravação dos hinos pelo músico Carioca Freitas. Além disso, desde cedo, as músicas de Chandra Lacombe e Fernando Beltran tocavam meu coração nos rituais.

Assim, em 2014, realizei o primeiro trabalho cuja orientação foi completamente guiada por hinos, em sua maioria do Santo Cruzeiro, em homenagem ao mestre Irineu. Após esse trabalho, foram realizados mais dois, sendo que o último aconteceu no I retiro. Temos o objetivo de realizar trabalhos assim uma vez por semestre pelo menos.

Em nossa observação, os trabalhos com hinos proporcionam uma experiência bem distinta da que estamos habituados com os trabalhos xamânicos, em diferentes aspectos. A própria força, as reflexões e vivências se apresentam de maneira diferente. O toque do maracá, o bailado e o cantar dão uma métrica diferente ao ritual.

No xamanismo, nos acostumamos a uma forma de ritual, de orientação musical, de força e de vivência. Os trabalhos com hinos nos tiram da zona de conforto à qual estamos habituados. As instruções nas músicas parecem não ter fim, a necessidade de se concentrar nas letras e tocar maracá mesmo quando a “força” está bem forte, testam nossos limites e nos fazem desenvolver uma disciplina e determinação muito grandes.

Nesse trabalho percebemos que há uma onda constante e harmônica que, quando não oferecemos resistência – julgamento, racionalidade, repulsa, preguiça ou senso de fraqueza – passamos a vibrar com ela. Nesse instante, ultrapassamos nossos limites e compreendemos que eles são uma crença que podem facilmente ser superados. Assim, com firmeza e humildade, passamos a receber os ensinamentos ou a doutrina da rainha. A própria força da bebida se apresenta de maneira diferente, balançando, testando a firmeza, levando a superação e a fortificar a consciência do poder da determinação mental.

O bailado constante convida a vivenciar uma experiencia de força muito distinta da qual estamos habituados, uma onda de positividade e alegria toma conta de todo nosso ser, ao mesmo tempo que estamos concentrados na dança circular e no toque do maracá a vivência acontece em nossa mente. Parece que a dança, o toque e o cantar impedem que nosso ego atue de maneira que nos coloque para baixo ou venda uma auto imagem negativa – comumente chamado de “peia”. Assim, torna-se tão natural ficar bailando e vivenciando, entramos em um estado de êxtase que palavras não descrevem a magnitude. A simplicidade e profundidade dos ensinamentos contidos nos hinos nos convidam a grandes reflexões.

Esses trabalhos têm como objetivo homenagear e manter acesa a chama que mestre Irineu acendeu e também fortificar a disciplina e a firmeza do “daime” no grupo, bem como proporcionar uma experiência intensa e marcante. As vivências e reflexões são presentes para aqueles que escolhem e não desistem em trilhar esse caminho.

“Nós vamos navegando sempre nessa direção

Seguimos pelo brilho da Rainha do Perdão

Formamos a corrente da alquimia do Amor

Da Santa Mãe Maria e do Divino Criador”

Julio Cesar – A chave / Alquimia do amor

Hinos Mestre Irineu https://www.youtube.com/playlist?list=PLFInDk-2Ts2-V7qr1aMKrQh9-4vt2tavU