Sempre cabe mais um

Esses dias estava pensando a respeito daquelas situações em que há um grupo de pessoas reunido em determinado local e aí chega aquele conhecido momento em que as pessoas decidem tirar uma foto. Nesta situação, algumas pessoas se juntam para a foto e outras pessoas vão chegando, até que todos consigam se enquadrar. Então, quando parece que não há mais espaço para mais ninguém, chega mais um e mais um e, no final, sempre dá-se um jeito de fazer com que todos saiam na foto, mesmo que apareça apenas o rosto de alguns.

Isso me fez trazer um paralelo com o que vivemos em nossas vidas. Conforme vamos crescendo, vamos conhecendo mais e mais pessoas e algumas delas, em especial, se tornam amigas muito próximas. E, mesmo quando não nos damos conta disso, essas pessoas começam a fazer parte da maneira como encaramos o mundo. Cada pessoa, com suas percepções, nos ensina e aprende muito conosco. E, dessa maneira, vamos aprendendo a acolher cada uma delas, de maneira muito especial.

E aí chega um momento em nossas vidas em que olhamos para a “foto” com todas as pessoas que conhecemos: família, amigos, pessoas com quem convivemos no mundo profissional, outras que conhecemos na fila do banco “por um acaso”, amigos de amigos, amigos de parentes, enfim, uma infinidade de pessoas, e pensamos já ter completado o quadro com as pessoas que gostamos e sentimos que, no quesito “pessoas que fazem parte da minha vida”, já estamos completos.

Eis que, em um dia qualquer, uma nova pessoa se aproxima e você se encanta mais uma vez por mais essa pessoa e percebe que não consegue evitar e, quando se dá conta, você já a acolheu e arrumou um cantinho para ela no quadro das pessoas que você ama. E, pensando bem, depois que você acolheu esta nova pessoa, você percebe que parecia até mesmo que o quadro não estava completo até então.

E, a cada vez que uma nova pessoa chega à sua vida, você percebe que sempre há espaço para acolher mais e mais um. E me pego muitas vezes pensando que deve haver um limite para o número de pessoas que consigo amar. Mas, afortunadamente, percebo que não há limite para distribuirmos amor. É como se ele viesse, literalmente, de uma fonte inesgotável e sempre resta amor para aqueles que o buscam.

E se só o amor for verdade? E se tudo o que ainda não conseguimos perceber como amor for um pedido por amor? E se somente aprendemos a amar de fato quando conseguirmos finalmente entender que precisamos amar a todos, sem exceção. E se, a cada vez que acolhemos uma nova pessoa em nossa vida, estamos, na verdade, acolhendo um outro aspecto de nós mesmos que não queríamos aceitar? Qual a diferença entre você e qualquer pessoa que cruze o seu caminho?

É muito claro e óbvio que somos todos muito diferentes na forma, ou seja, em nossa aparência física. Acho até que isso é um truque do ego para que analisemos uns aos outros através de nossos olhos físicos e consigamos “comprovar” que somos mesmo muito diferentes. Mas, em nossa mente, qual é a diferença entre você e eu? Em um nível muito profundo, qual o nosso maior desejo? Qual é a nossa busca? Quem ou que somos?

E se, ao invés de acreditar que já sabemos tudo, cogitássemos a ideia de que provavelmente não conhecemos a resposta para a nossa própria existência? Do outro lado do desconhecido mora o potencial de aprendermos algo novo. É necessária muita sabedoria para admitirmos para nós mesmos que não sabemos a resposta para tudo e, apenas dessa maneira, abrimo-nos à possibilidade de conhecer algo realmente novo.

Se não sabemos quem somos, como poderemos saber o que estamos fazendo? E, ainda, como olhar para o mundo, para as pessoas que nos rodeiam ou para mim mesmo sem saber quem somos? Qual o referencial usado ao avaliar as pessoas que se aproximam de nós? Como reconhecer algo novo, se nosso “banco de dados de referências” é tão limitado? Por outro lado, se a verdade não depende de nada para existir, não seria natural que, assim que nos livrássemos de nossas percepções equivocadas, que ela começaria a se revelar diante de nossos olhos assombrados?

Por isso, ao conhecer novas pessoas, que tal se olhássemos para elas na expectativa de encontrar algum aspecto de nós mesmos que ainda não conhecemos? E, ainda sob essa perspectiva, que tal se nos propuséssemos, ao invés de buscar as diferenças, buscar as afinidades e as igualdades entre nós?

Conforme acolhemos as pessoas em nossos corações, vamos percebendo que estamos, na realidade, acolhendo a nós mesmos. Abrimo-nos à possibilidade de compreender que dar e receber amor são, na verdade, a mesma coisa. E, quanto mais nos amamos e nos abrimos à possibilidade de receber todas as dádivas que vêm com o desconhecido, percebemos que, apesar de já sermos plenos em essência, apenas vivenciamos tal plenitude quando acolhermos cada pessoa, por entender que é necessário transpor o limite físico que nos separa.

Se não fosse por nosso corpo físico, quem poderia afirmar onde termina um ser e começa o outro? O que nos separa além de nossa percepção de que somos separados? Qual aspecto de nós mesmos ainda nos é difícil acolher?

Então, minha sugestão é que, diante das novas pessoas que surgem “por um acaso” em nossas vidas, pensemos e olhemos essa nova pessoa com os olhos de quem busca conhecer algo que ainda não identificou dentro de si mesmo. E que o nosso primeiro pensamento seja no sentido de se abrir para acolher o novo, pois, assim como podemos encaixar a todos naquela famosa foto de grupo, podemos acolher o mais novo integrante que vem para tentar formar a imagem total de nós mesmos.

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