Na prática mística da tenda do suor, também conhecida como temazcal (que traduz-se como “casa do vapor” no idioma ancestral), desvendamos o legado intricado nas tradições xamânicas das terras indígenas das Américas (México, Guatemala e América do Norte). Há, pelo menos, quatro milênios, essa cerimônia floresce como guardiã dos segredos e ensinamentos dos povos ancestrais.

 

Denominamos este rito como Cerimônia do Fogo Sagrado, pois ao prepará-lo, reavivamos o calor das pedras, que em tempos idos, foram correntes de lava emergindo à superfície e solidificando-se. É uma prática que ressoa em nossa essência, moldada ao longo dos anos em busca constante de aprimoramento. A tenda, simbolizando o umbigo da Mãe Terra, transforma-se no santuário onde almas se reúnem para receber o aroma curativo das plantas medicinais. Este ritual transcendental torna-se a representação viva de nossa própria concepção, gestada no ventre da progenitora que nos nutriu.

 

No sagrado ventre do temazcal, habita a oração, a bênção e a purificação da essência humana. Maracás, chocalhos e tambores entoam suas melodias, entrelaçando-se aos elementos que dançam nas quatro direções, manifestando a cura, a superação e o renascimento.

 

As pedras, guardiãs do calor proveniente do núcleo materno da Terra, permanecem como testemunhas silenciosas do tempo. Aromáticas plantas reverenciam a vida, ecoando gratidão e bênçãos. Nessa poderosa cerimônia, desvendamos a dádiva imediata do ar como alimento imediato, penetrando em nós como a primeira respiração, dando início aos trabalhos internos. A água, derramada sobre as pedras, recebe suas bênçãos e, em um retorno etéreo, transforma-se em vapor. Este movimento, a memória da primeira respiração, ressoa o instante em que fomos concebidos, assim, revisitamos nossa gestação, imersos na memória do ventre materno.

 

No temazcal, desvendamos preciosas lições de transcendência, aprendendo a dominar o desconforto e a arte de aquietar a mente em meio ao tumulto. Acessando assim a chama sagrada, a energia pura, a essência mesma da criação. Essa é uma cerimonia que remete ao movimento da criação, para que, mais uma vez nesta Terra, possamos colher os frutos desse caminho em benefício do nosso aprimoramento espiritual.

 

Nesta celebração da vida, mergulhamos na experiência do puro amor, em vibrações que ecoam o pulsar de nossos corações. No temazcal, somos brindados com a oportunidade de aprender uma preciosa lição espiritual: ouvir com atenção, estar presente, concentrar-se e obedecer à ordem natural de respirar profundamente.

 

A tenda, uma estrutura circular de ferro coberta por uma lona negra, emerge como o cenário deste encontro transcendental. No centro dela, repousam as pedras incandescentes. Esta cerimônia desenrola-se sob a intensidade do sol, que contribui para propagar o calor, amplificando a experiência sensorial e espiritual dos participantes.

 

O início desta sagrada cerimônia desvela-se sob as primeiras luzes do dia, quando acendemos a fogueira e preparamos as pedras. Em seguida, os participantes tomam a ayahuasca, mergulhando em um estado meditativo profundo. Guiados por melodias que nos conduzem à concentração, dedicamos cerca de trinta minutos para alcançar a “força”, um estado de consciência expandida. É neste ponto que todos são convidados a adentrar a tenda. A cerimônia, um intricado entrelaçar de energias cósmicas, desenrola-se por aproximadamente uma hora e meia, imersa nas dobras do tempo e do espaço.

 

Dentro do temazcal, o aspecto psicológico assume uma importância transcendental. A expectativa, vista como nosso principal desafio, entrelaça-se em nossa mente, e muitos se concentram nas possíveis dificuldades físicas que aguardam dentro da tenda. Antes mesmo de atravessar seu limiar, a imaginação dá forma a cenários temíveis. Enquanto anseiam pela transformação e purificação, o receio das condições físicas paira no ar. No entanto, acreditamos que é o domínio do psicológico e do emocional que verdadeiramente nos guia ao longo deste caminho espiritual.

 

Ao ingressarmos na tenda, muitas vezes perdemos a noção dos limites temporais, pois o processo se desenha há muito tempo. As músicas desta cerimônia são meticulosamente selecionadas, desempenhando o papel de nos conduzir a um estado de êxtase mental, induzindo-nos a alcançar o silêncio interior e transcender o desconforto físico. No entanto, em várias ocasiões, já nos encontramos mentalmente imersos no medo mesmo antes de entrar. E lá dentro, debatemo-nos entre a permanência e o desejo de sair. Uma dualidade, uma fuga dupla do presente.

 

Os primeiros minutos dentro da tenda frequentemente representam a prova suprema. O corpo luta para se adaptar ao calor intenso, envolto pela escuridão, compartilhando um espaço reduzido com outros participantes. No entanto, apesar do cenário desafiador, lembremos que estamos sob a abóbada de uma tenda de lona, cuja “porta” pode ser aberta a qualquer momento. Portanto, somos nós que determinamos nossa experiência, e a única prisão real reside em nossa própria mente. O grande antagonista, como sempre, é a mente. O temazcal torna-se o veículo para compreendermos que não somos apenas o corpo, e, independentemente do que acontece com ele, podemos encontrar a serenidade.

 

É uma experiência verdadeiramente milagrosa e transcendental quando conseguimos superar as vicissitudes ao nosso redor – o calor intenso, a escuridão envolvente, as melodias hipnóticas, o desconforto físico – e mergulhamos profundamente em nosso interior, descobrindo que nosso verdadeiro Ser permanece sereno e inalterado.

 

Entretanto, em todo esse processo, como em qualquer jornada, é imperativo manter a coerência e a consciência dos limites de nosso corpo físico. Por essa razão, a prudência sugere que nos movamos o mínimo possível durante a cerimônia e de sermos capazes de discernir entre as sugestões da mente e os sinais reais do corpo que genuinamente sofre. Cada um é o árbitro de seu próprio limite, podendo decidir o momento de sair da tenda. Permanecer até o final não é uma obrigação, mas uma escolha pessoal. Nossa única regra nesse sentido é: se sair da tenda, não será mais permitido retornar.

 

Desejamos ter despertado em você o desejo de vivenciar esta experiência singular, que para nós representa a cerimônia mais intensa e poderosa realizada em nosso Instituto. Sinceramente esperamos que possamos nutrir um profundo respeito por nosso corpo, reconhecendo, no entanto, que ele jamais poderá limitar ou conter o verdadeiro Ser que somos.

 

Que possamos encontrar a harmonia entre cuidar de nosso corpo físico e honrar a vastidão de nosso ser interior. Que cada passo dado nessa direção seja uma jornada em direção à compreensão e celebração de nossa existência.

 

Fotos dessa prática AQUI.